sábado, abril 07, 2007

Premonição de um dia diferente - 1

Capítulo I – A manhã de um dia diferente (1ª parte)

Eram oito da manhã. O dia estava a correr muito bem. Há já muito tempo que um dia não corria assim mesmo tão bem. Acordou com o despertador, conseguiu pela primeira vez tomar duche sem molhar o chão do quarto-de-banho, não deixou as torradas queimarem-se, sentiu uma confiança extrema quando escolheu a camisa e a gravata do dia. Antes de sair de casa olhou-se ao espelho, sorriu e disse: “é hoje!”.
Fechou a porta e rodou a chave. Antes de a tirar da fechadura, sorriu novamente. A mesma frase de há momentos cruzou o seu pensamento. Com uma velocidade suficientemente rápida para o apanhar desprevenido mas ainda assim acessível para que conseguisse tomar consciência do seu significado. “É hoje!”.
Ainda no seu condomínio, foi passando pelas zonas verdes, extremamente cuidadas e agradáveis, as quais alimentavam o seu sentimento de satisfação. Lá apareceu um esquilo. E outro e mais outro. Quase pareciam aparecer para cumprimentá-lo. Os esquilos, que no início foram motivo de alegria e que agora já eram coisa comum que não despertavam nele grande entusiasmo, voltaram a ter a atenção original. E outro grande sorriso rasgou a sua face… como que a natureza lhe estivesse a confidenciar um segredo, a abrir-lhe as portas. E ele ao mesmo tempo que sorria por ver os esquilos cruzarem o seu caminho enquanto andava, pensou na quantidade de seres vivos existentes, na multiplicidade e riqueza da natureza onde o homem apenas é uma espécie. Achou-se pequenino… mas com uma grande vontade de viver. “É hoje! É hoje!!!” Este pensamento inundava o seu raciocínio e deixava-o inebriado, anestesiado, com o tal sorriso tolinho que não se consegue explicar.
No caminho para o trabalho, listou mentalmente as coisas que queria fazer durante o dia de hoje. “Chegar ao trabalho e despachar o que ficou dependente do dia de ontem, preparar a reunião das 10 horas de manhã, enviar um e-mail a confirmar o jantar de sábado, procurar na Internet informações e preços do musical que quer ir ver, …”
No autocarro as pessoas pareciam diferentes. Diferentes dos outros dias. Tinham um brilho… diferente… umas pareciam sorrir-lhe sem razão aparente, outras olhavam-no de lado e outros simplesmente ignoravam-no. Provavelmente o mesmo de todos os dias… mas ele sentia de forma diferente. “É hoje…” continuava ele a pensar…

(to be continued…)

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