quarta-feira, abril 11, 2007

Capítulo I – A manhã de um dia diferente (2ª parte)

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No autocarro as pessoas pareciam diferentes. Diferentes dos outros dias. Tinham um brilho… diferente… umas pareciam sorrir-lhe sem razão aparente, outras olhavam-no de lado e outros simplesmente ignoravam-no. Provavelmente o mesmo de todos os dias… mas ele sentia de forma diferente. “É hoje…” continuava ele a pensar…



Capítulo I – A manhã de um dia diferente (2ª parte)

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Enquanto isso, reparava nos pequenos pormenores deliciando-se. As crianças, com ele brincavam àquele “esconde-esconde” que só elas conseguem fazer, como se fosse a pessoa mais querida da família que ali estava à sua frente. Ele claro, deleitava-se com os seus sorrisos. Fazendo-se um parêntesis… ele sempre gostou de crianças… mas as coisas nem sempre corriam bem. Nem sempre gostavam das caretas que ele fazia e invariavelmente acabavam a brincadeira a chorar. Enfim… Neste caminho, todos os episódios lhe pareciam dignos de registo. Um velhote “muito usado”, meio esquecido, meio surdo, meio coxo, lá entrou meio amparado e lá se sentou meio de lado. Ainda assim, todo bem disposto, ia dizendo uns gracejos que arrancavam risos e sorrisos até aos mal-encarados.
Por todas estas razões ou por nenhuma delas, o sentimento de confiança crescia nele como uma bola de neve. Deleitou-se a ver a paisagem, igual à de todos os dias, mas diferente naquela manhã. A tela era verde. As pinceladas coloridas, pastavam num cenário pitoresco, desenquadrado da sua realidade de escritório frio, cinzento, barulhento, sistemático, rotineiro, pesado, burocrático… e, por isso mesmo, era um cenário especial.
A viagem prosseguia com maior ou menor motivo de contentamento. Numa determinada paragem, entram duas raparigas. Ele olhou para elas… não conseguiu fazê-lo sem ser de alto a baixo… não conseguiu deixar de reparar na beleza daquelas duas raparigas… qualquer coisa de extraordinário, único… não conseguia encontrar as palavras adequadas para descrever tal raridade. Naquelas duas humanas obras… não havia sequer resquícios de beleza alguma!!! Rapidamente tentou encontrar palavras que o ajudassem a descrevê-las, pois começava a sentir-se um “bruto, insensível, machista, chauvinista”…. Depois de algum esforço, lá concluiu: “Bom… a da esquerda, não é propriamente engraçada… a outra… bem… também não.” E achou melhor ficar-se por ali. No entanto, antes mesmo que pudesse desviar o olhar e rapidamente baralhar o pensamento com algo diferente… elas fixam directamente os seus olhos nele. Relembrando com esforço as suas maneiras e educação, sorriu-lhes. Sorriram de volta. Sentaram-se. E começaram a conversa sobre tudo e sobre nada, sobre generalidades e sobre coisa nenhuma como, aliás, é natural entre a maioria das mulheres.
Subitamente, a também não, interrompe a conversa com a não é propriamente engraçada, olha fixamente para ele e dispara a pergunta do nada… “É hoje?!”…

Rapidamente ele gelou, paralisou. Um torpor percorreu-lhe o corpo. Sentiu a pressão do sangue e a cara a ferver. Como podia ela saber o que ele sentia? O que pensava ele naquele dia? Surpreendido, não conseguiu responder. A rapariga insistiu “É hoje?!... è hoje que se atrasa os relógios uma hora?!” …
Um sentimento de embaraço e alívio, misturado com gargalhadas sonoras, ecoou por entre os passageiros. Não chegou a responder. As raparigas entenderam a sua reacção como estando a fazer pouco delas… Mas o riso era tão solto, tão leve, tão natural… que as lágrimas escorriam-lhe do rosto.

(to be continued…)

2 comentários:

Andorinha disse...

Tás numa de livro!!
Eu acordo todos os dias de manhã e digo: hoje vai ser um dia fantástico, porque eu mereço!!!
Fico a aguardar o resto!
Beijos

Unknown disse...

"E começaram a conversa sobre tudo e sobre nada, sobre generalidades e sobre coisa nenhuma como, aliás, é natural entre a maioria das mulheres." - Já tiveste frases mais felizes ... Já agora de que falam a maioria dos homens? Futebol e gajas?