quinta-feira, maio 28, 2009

Marchas Populares... Populantes... Populativas

(publicado no nº 3 do "PaLOP News", Abril09)


Há quem marche para a frente, há quem marche para trás.
Há quem sabe porque marcha, há quem não sabe o que faz.

Há quem assuma o motivo
E se agarre com propriedade
Ainda mais do que aquele
Que mais tem necessidade...


Estamos em alturas de Marchas. E ainda bem. Significa que as pessoas sentem a liberdade de as poder fazer. Significa também que se identificam com algo, seja pelos seus valores, seja pelas suas necessidades, seja por divertimento, seja por criticismo crónico, seja porque sentem o apelo de uma causa ou até porque simplesmente é mais fácil seguir os outros.

De todas as marchas que conheço, tenho necessariamente que destacar a marcha tradicional na Avenida da Liberdade, em Lisboa, que celebra a Revolução do 25 de Abril. Muitos viveram os tempos de Estado Novo, de ditadura, de um regime insuficiente, incompleto, inculto... em Portugal e na diáspora, de uma forma ou de outra, na sua esmagadora maioria reconhecem a importância da revolução. Infelizmente de lá para cá, apesar das repetições recorrentes das reconstituições televisivas e cinematográficas e dos programas escolares, pouco tem sido transmitido sobre o que se passava verdadeiramente nessa altura, quais os planos de Governo, quais as alianças estratégicas, qual o posicionamento de Portugal na Europa e no Mundo nessa altura, o desenvolvimento (ou a falta dele) nos países de língua Portuguesa... quais as grandes diferenças (se existentes) entre uma ditadura de regime de outrora e uma ditadura de elites de agora. Passo a comparação exagerada: Se antes três pessoas não se podiam juntar pois era considerado conspiração, agora quando três pessoas se juntam são monotorizadas, escutadas, filmadas... e catalogadas. Troca-se, em larga medida, a palavra censura pela palavra manipulação.

No meu ponto de vista, eu que nasci depois do 25 de Abril, identifico esta como uma revolução feita de forma diferente. Foi uma revolução mais de desabafo e menos de justiça. Foi uma revolução mais de oportunidade e menos de oportunismo. Foi uma revolução mais de coração e menos de razão. E isso justifica o período desnorteado que Portugal viveu e do qual ainda sofre os seus efeitos. Apesar de ter sido uma revolução mais de oportunidade e menos de oportunismo, o simples facto de ter sido promovida em jeito de desabafo e com o coração, fez com que a máquina oportunista se consolidasse. Aliando aos oportunistas existentes no antigo regime os oportunistas que, numa ausência de regras claras de democracia e de participação política informada tivesse espaço para se instalar nos partidos. Esta revolução de desabafo, sendo tão maravilhosamente o reflexo da boa natureza e pacifismo do povo Português, acabou por fazer um favor bem grande à maioria dos oportunistas existentes.

Mudou-se o tabuleiro de um jogo já gasto, cansado, usado e não preparado para o futuro, onde os oportunistas teriam apenas mais do mesmo mas sem poderem desenvolver-se tanto quanto quereriam devido a uma arbitragem rígida, severa, pouco audaz e não tão cooperante quanto desejada para os seus propósitos. As regras tiveram então que ser reinventadas, copiadas e adequadas... ainda estão a ser. Infelizmente, alguns dos seus maiores jogadores do jogo – estes oportunistas – não mudaram e continuam instalados. Escusado será referir quem serão os peões...

Mudando de registo...

Destaco também, por outras razões, as marchas populares que em Junho festejam os Santos Populares. Pode-se seguramente dizer que Santo António, São Pedro e São João não olham apenas a crentes... já que todos são mais que benvindos, onde quer que estejam, a pegar no alho porro ou martelo, alimentar-se de sardinha ou bifana e a dançar uma bela modinha ou marcha. É sem dúvida um momento alto de festa e alegria onde, por momentos, se esquecem os problemas da vida e se celebra o que de genuíno e tradicional o povo Português tem.

Embora não sendo marcha, faço um parêntesis neste texto para referir, também em Junho, à celebração do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades. É, em grande medida, uma celebração de Portugalidade, de Lusofonia, de língua Portuguesa e da boa influência cultural que Portugal emprestou, doou, partilhou e recebeu pelo Mundo.

Assistimos, há bem poucos dias, a uma marcha em Londres, promovida por diversas entidades, com o motivo de promover a legalidade dos imigrantes. É de louvar. Especialmente de reconhecer a existência de entidades que, no puro altruísmo e sem interesses, se associam a tal causa. Para essas, a não interesseiras, o meu aplauso. A existência de comunidades emigrantes ilegais de tal dimensão é reflexo da política de imigração do governo Britânico que tem sido ao longo dos anos desenvolvida de forma pouco organizada. Paralelamente, como tive a oportunidade de referir no artigo que escrevi no número 2 do PaLOP News, os imigrantes ilegais formam uma parte significativa da força laboral de pequenas empresas no Reino Unido. Durante anos, o governo tem fechado os olhos a este sistema paralelo que permite que a economia tenha um conjunto de PMEs (Pequenas e Médias Empresas) produtivas. Vê-se agora obrigado a reconsiderar a sua política e posicionamento perante forças comunitárias, empresariais que da sua natureza e origem se constituem como Lobbies fortes podendo estabelecer plataformas de pressão e negociação.

Teremos necessariamente que analisar também o impacto que o alargamento a 27 estados membros da UE tem no espectro da imigração ilegal. Logicamente, embora ainda com algumas restrições e limitações para alguns dos estados da Europa de Leste, os cidadãos destes países aderentes, antes necessitando de confirmação de legalidade, passaram a fazer parte da União Europeia, tendo assim acesso ao espaço livre onde não necessitam de permissão de entrada, permissão de estadia ou permissão de trabalho. Perante este cenário, a Europa tem agora uma circulação mais plena. ´

Numa lógica de equilíbrio, outros grupos reinvidicam o reconhecimento de legalidade a atribuir à sua comunidade. Os argumentos são variados, desde a dimensão da comunidade ao seu impacto comercial e cultural, desde relações de parceria a relações de aproveitamento. Parece-me que apenas uma pequena porção da comunidade percepciona o real valor de determinadas parcerias... espero estar enganado. E espero também que algumas das pessoas mais envolvidas não vão ao engano. “Assim como assim”, não deixa de ser um processo legítimo, portanto... vejamos como corre.