segunda-feira, fevereiro 23, 2009

Going with the flow...

Se ficar "empanada", usa o rato para "desempanar"....

domingo, fevereiro 08, 2009

Haverá realmente uma crise económica?

Será a crise económica apenas um “mau momento”?

(publicado no nº zero do "PaLOP News", Jan09)


aahhhHHHHH! Pânico. Pronto. Mãos na cabeça. Desespero. Estamos em crise económica.

“- Poupa-se mais?!
- Nem por isso.
- Planeia-se melhor os gastos?!
- Também não.
- Então qual é a diferença?!
- É que agora há despedimentos em massa, cortam-se os empréstimos e toda a gente se queixa.
- Ok... e qual é realmente a diferença?!
- É que os bancos deixaram de ter dinheiro... e as empresas estão “à rasca”.
- Ah... então é isso. Acho que já percebi. Antes estávamos mal, mas como os bancos não tinham problemas... e agora, como os bancos não estavam preparados e não se precaveram... estamos ainda pior pois já não há rios de dinheiro a viajar em especulações e transacções virtuais.... é isso?
- É... é mais ou menos isso...”


Seja como for, coloco primeiro uma questão. Estaremos mesmo numa crise económica? Naturalmente, eu sei que estamos num período terrível, a roçar níveis preocupantes de instabilidade e insegurança económicas... mas será mesmo uma crise? Deixem-me explicar o porquê desta pergunta.

Ora bem, qual o conceito de crise? Se olharmos para as definições existentes, o conceito de crise é entendido como uma alteração de estado ou perda de algo que coloca em causa o equilíbrio de uma pessoa ou de um grupo. A única forma de reencontrar esse equilíbrio é uma mudança na atitude ou no comportamento.

Ou muito me engano, ou cá para mim parece-me que este “momento de crise” não é só de agora. Não estaremos neste “mau momento”... há já algumas décadas? Quando um “mau momento” se teima em repetir e tem um efeito prolongado, não passa a ser uma “nova realidade”? Penso que sim. E o que eu também penso é que esta “nova realidade” esteve sempre invariavelmente diluída ou disfarçada por mais ou menos evolução e verdadeiro progresso técnico e científico, disponibilidade de fundos extraordinários, medidas e decisões de cosmética. Em termos de permissas base da nossa sociedade, bem como atitudes e comportamentos sociais... parece-me por demais evidente que este sistema tende para o desequílibrio.

Prontos para a divagação?! Alerto já o leitor para que esteja preparado para as seguintes linhas... aqui vamos...

Coloco então, novamente, essa mesma questão... estaremos nós mesmo numa crise económica? Ou o referido momento será apenas o reflexo do período de declínio desta civilização? Um pequeno parêntesis: por civilização, entendo o estágio da cultura social e civismo de um agrupamento humano caracterizado pelo progresso social, científico, político, económico e artístico. Não sendo fatalista, sou obrigado a considerar que o modelo em que neste momento a nossa sociedade assenta, é um modelo enfraquecido. Enfraquecido pela falta de valores morais. Enfraquecido pela falta de princípios. Enfraquecido pela falta de referências. Enfraquecido pela falta de respeito pelas pessoas e pelas tradições. Enfraquecido pelo enfoque exagerado no desenvolvimento económico, sem a devida preocupação com o equilíbrio social. Enfraquecido...

Sei que possivelmente corro o risco de ser entendido como lírico ao afirmar determinado pensamento mas, independentemente de eu ser de direita ou de esquerda e independentemente do leitor ser de esquerda ou de direita, ninguém poderá negar que o sistema actual previligia uma sociedade ambiciosa, de busca constante pelo lucro e pelo status social onde as marcas passaram a ocupar a ser as referências orientadoras de comportamento, onde a efémera fama conquistada - num qualquer programa de televisão - se sobrepõe ao reconhecimento público pelo contributo social. Aliás, a importância social deixou ela mesmo de ser identificada ou atribuída pelo papel cívico que cada um representa, mas antes pela notoriedade e visibilidade conquistada... e quanto mais polémica melhor. A sociedade actual deixou de ter uma base de equilíbrio... ao invés, promove a especulação, o endividamento e as diferenças sociais. Em episódios de uma grande novela, a história conta-nos que, num determinado momento da sua existência, todas as grandes civilizações alteraram os seus modelos de funcionamento de participação social, atingiram estágios máximos de progresso e desenvolvimento para depois entrarem em declínio, acabando por se extinguir. Aconteceu com as civilizações Inca, Maia, Grega, Romana... e acontecerá o mesmo com esta nossa civilização... se a base de organização social não se alterar.

Concordo em absoluto com o mercado liberal, com a globalização, com o avaliar e premiar o mérito em termos de performance no trabalho. Mas também concordo com a ideia sistémica de que todos fazemos parte deste “eco-sistema” e que a nossa liberdade termina onde a dos outros começa. Não podemos furar... e furar... e furar... sabendo que estamos a criar desequílibrios noutro lado. Puxar os lençóis para cima e destapar os pés... é insensato, é um erro estratégico, é pequenino, é... insuficiente.

Então e soluções?! Dizer o que eu disse sem propor soluções, estratégias, acções... é muito fácil. Concordo. Mas se vos fizer parar para pensar um pouco em vez de seguirem a “carneirada” que acena que sim com a cabeça cada vez que lhe perguntam se estamos em crise económica... já fico contente.

Quanto a soluções, há diferentes níveis disponíveis. A um nível global, é necessário que se estabeleça uma “nova” consciência social. Esta consciência sempre existiu e recentemente tem sido até muito badalada. Mas torna-se essencial que todos nós exerçamos a nossa influência para que o dinheiro seja melhor investido, para que não haja quem brinque com o dinheiro que não é deles.... e para que os que o fazem levianamente sejam de facto punidos como todos os outros. É por aí que começa a justiça social... logo, o equilíbrio. “O Sol quando nasce, é para todos”. Ou “mamam todos, ou não mama nenhum”.

No que diz respeito a soluções a um nível pessoal, “quem não tem dinheiro, não tem vícios”. O meu conselho é esse mesmo. Que as pessoas não sejam ovelhinhas e não “encarreirem” no que os outros fazem “só porque sim”. Que não peçam mais um empréstimo, só porque o vizinho, o primo ou o irmão o fizeram. Planeiem os vossos projectos de vida sem ficarem completamente dependentes de terceiros nem da sorte. Sejam conscientes acerca da vossas despesas e comprometam-se apenas com o que podem.

Agora, voltando ao tema central. Alguém diz que estamos em crise... e nós insistimos em acreditar que estamos em crise. Como queiram. Só que desta forma, não só vamos continuar a cruzar os braços e a criticar apenas os que elegemos para lá estarem a decidir por nós - para nos desresponsabilizarmos de uma situação que também ajudámos a criar - como estaremos eternamente iludidos à espera de sair da situação... como se isso fosse possível e as coisas “voltassem a ser como dantes”. Sugiro então que pensemos da seguinte maneira, muito positiva até... Não há crise nenhuma! Ponto. Vêm como é muito melhor?!??! Se não estamos em crise, é bem mais fácil viver e encarar a vida com um sorriso. Já está o sorriso?! Óptimo. Agora... vem novamente a parte difícil de encarar a realidade... De facto, não há crise nenhuma... este sistema é que não funciona.

Aha! Acho que já descobri. Não é a economia que está em crise. Quem está em crise, somos nós que vivíamos com a ilusão de que esta economia funcionava. Mais.. quem está em crise são aqueles que sustentaram todas as suas crenças neste sistema económico. Demorou, mas como agora estão a ver que não funciona... estão em crise, “estamos em crise”, “está o mundo em crise”. Desculpem desiludir. Eu não estou em crise nenhuma. Mas conheço amigos psicólogos que, de certeza, estão dispostos para vos dar assistência, i.e. aos que se sentem em crise claro está.

De resto, antes que me acusem de colocar os economistas, capitalistas e outros “-istas” em estado depressivo de lamento, deixem-me então avançar com outro ponto de vista positivo!!!! Identificar o problema é o primeiro passo para sair da cr... isso mesmo.