domingo, maio 13, 2007

Cortina de Fumo

A mesma rapariga de sempre, na paragem. Mas desta vez parecia diferente. O penteado… era isso. O penteado estava diferente. Estava completamente penteado para o lado esquerdo da face de uma forma totalmente extravagante. De tal forma que todas as pessoas que estavam no autocarro, bem como os que passavam na rua, ficavam a olhar.

Vou-vos enquadrar… aquela rapariga viajava quase todos os dias no autocarro e acompanhada do seu namorado. E o tempo mostrava algo curioso. As primeiras vezes que os vi, muito apaixonados e alegres… numa felicidade contagiante… daquelas que por vezes quase chega a ser “enjoativa”. Aos poucos, fui os vendo mais sisudos, menos energéticos. Depois mais cabisbaixos e sem grandes conversas. Depois com discussões públicas. E a última vez que os tinha visto, estavam mesmo com cara de chateados e inclusive não se falavam de todo.

Quando me lembrei disto, logo considerei então que o penteado da rapariga fosse um “grito do Ipiranga”, uma libertação, uma excentricidade à qual se teria entregado para mudar de visual, muitas vezes ritual necessário para assumir psicologicamente uma mudança na vida. Contente com a minha conclusão sobre a rapariga, desviei o olhar da sua figura no sentido da minha direita… e quando o fiz… encontrei o ex-namorado a cerca de 10 metros da rapariga. Com cara infeliz, olhava-a de esguelha, pelo canto do olho. Entendi então finalmente, que o penteado tinha sido apenas obra do momento. Uma espontaneidade impulsiva para que se pudesse esconder do seu, visivelmente, ainda apaixonado.
Sabendo que muitas das pessoas não teriam compreendido a sua intenção e o penteado extravagante, senti-me naquele momento especial, como um amigo que a compreende… mesmo sem a conhecer.

1 comentário:

Marta disse...

Talvez o penteado extravagante, fosse materialização da sua libertação interior!
beijo