sábado, fevereiro 10, 2007

Hipocrisia a mais

Os que votam sim... terão as suas razões...
Os que votam não... terão as suas razões...
As que fazem abortos... terão as suas razões...
As que não fazem abortos... terão as suas razões...

Mas o mais impressionante não é isso... é a discussão. Os argumentos utilizados por aqueles que têm visibilidade.

Uns vão ao ridículo de justificar o "não" porque o dinheiro a ser gasto na disponibilização de serviços de saúde para a ralização de aborto, é dos contribuintes... o argumento da vida já não é o principal... O "dinheiro dos contribuintes"... o mesmo portanto para o qual os mesmos já não se preocupam quando é para justificar pensões de reforma de administradores da CGD ou para justificar milhões e milhões desperdiçados em reformas, políticas e subsídios que não têm resultado nenhum, nunca havendo culpados nem responsáveis.

Os outros vão ao ridículo de justificar o "sim"... criticando a campanha do não. Tão somente isso. Como se de uma campanha presidencial se tratasse... a denegrir a campanha dos "adversários". Que estupidez.... isto não se trata de adversários. Não se trata de direita e esquerda.

Ou melhor... afinal é isso mesmo... Esqueçam lá a vida, a morte, as dez ou 12 semanas, as condições e qualidade de vida, as mulheres presas, as mulheres mortas, a falta de responsabilidade de quem gera um filho e depois aborta sem ter necessidade disso mesmo....

Não se vê ninguém a falar concretamente em soluções. Em melhorar a educação e a prevenção. Em melhorar as condições de vida. Em países da Europa, as famílias têm apoios e subsidios para criar os seus filhos. As mães solteiras têm ainda mais apoios... e não são os apoios como os que Portugal atribui às pessoas e famílias.... são subsidios a sério... com a mesma seriedade com que Portugal atribui subsídios a empresas e a negócios.

Mesmo os que falam em soluções... não têm tempo de antena na televisão (a televisão, já agora... é tão pobre.... já nem dá vontade de criticar. É mesmo um MAU serviço.)

Foi feito um referendohá 5 anos... os argumentos foram os mesmos. Ganhou o não.
Festejaram nas ruas... Estupidez.

Entretanto, nas campanhas... tanto uns como os outros... apresentaram sugestões de melhorar a educação e prevenção... as condições sociais, de assistencia médica e psicológicas das mulheres que precisassem...

Foi há 5 anos! O que aconteceu entretanto? Nada. Nada mudou. Todos aqueles que se insurgiram e ofenderam.... (lembro-me de discussões mesmo muito acesas...) nada fizeram. Puseram o assunto a marinar... já não estava na ordem do dia.

É de facto um daqueles assuntos como... Camarate.... Barrancos.... Câmaras Municipais (autárquicas)... vêm a baila ciclicamente apenas quando há votações e novas batalhas políticas.

Ou seja... por mais argumentos que haja para esgrimir... a votação de dia 11, recai sobre uma discussão pública de hipócritas.

Dar o meu voto a uma discussão de hipócritas.... não me parece...

Prezo demasiado a minha liberdade e o meu pensamento para isso.

5 comentários:

Mário disse...

Tens toda a razao, respeito o teu ponto de vista, mas acho que este é daqueles assuntos sem debate e que de facto deve ir para a frente, mesmo até sem um referendo que nao é vinculativo. Prefiro que gastem o dinheiro dos contribuintes na área da saude (e esta causa do aborto é importante, embora os investimentos em informacao e meios contraceptivos tambem sejam igualmente importantes, e tantos outros temas...). Mas de todo pra mim a abstencao nao é a solucao e ha tanto para fazer no nosso país, este foi um dos passos bons, embora hajam outros que ja deveriam ter sido efectuados no passado, e ha muitos mais e muito mais importantes na área da saude. Eu, com orgulho, votei SIM, e com orgulho espero ter vontade dentro de dez anos de sentir tanto amor à sociedade e governo portugues como tenho ao ´meu povo e à minha cidade de Lisboa, e ao facto de ser portugues. Estamos no bom caminho. Nunca ninguem vai agradar a ninguem, n existe a democracia perfeita, ha sempre uns "palhaços" pelo meio que deviam estar calados, e uns outros que nem deviam lá estar, mas nós os jovens, vamos mudando isto, desta vez mudámos, desta vez deixámos de ser um dos 4 países da CEE que tinha penalizacao à IVG.

Abrazo
Señor Luigi

Filipe Pereira disse...

Compreendo e aceito a tua posição Luigi. Se estivesse em Portugal, teria votado. E teria votado sim.

Mas há votações enganosas... Por mais que para alguns dos que votam, a real questão é a que está a ser votada... para a grande maioria de ovelhas é apenas uma votação onde se deixam iludir por uma suposta discussão de princípios onde, quem os lidera, não os usa nem aplica.

E desta vez foi o sim a festejar nas ruas... estupidez...

Enquanto não deixarmos de ser egoístas, não vamos a lado nenhum. Só espero que quem tenha votado sim... colabore agora na educação e prevenção... ou irá desresponsabilizar-se como a generalidade faz em relação ao resto, "porque a culpa é dos outros"???

Os concelhos e autarquias que fizeram boicote.... tinham assuntos mais importantes para resolver. O aborto não era assunto. Se não tivessem o problema da GNR ou do poste de electricidade no meio da estrada... estariam em acesa discussão sobre o aborto porque seria uma causa nobre.

A única proposta que ouvi desta vez... foi uma do não... de não despenalizar mas "interpretar de forma adequada" não criminalizando... palhaçada de proposta...

E do sim? Peço que se tiver havido alguma proposta, me elucidem sff. Ou que me enviem um link.

Mário disse...

Hola Pixote, podes consultar a posicao do sim (em prol do nao) em http://www.euvotosim.org/ confronta as duas posicoes e enquadra o panorama portugues na CEE.

Abrazo, vemos-nos no TUIST?

Filipe Pereira disse...

Olá Luigi...
Já confrontei... não gostei do site. Extremamente parcial no tratamento de posições (não é de estranhar... é um site político). Hipócrita e demagógico. Não apresenta soluções.

A crítica aos argumentos que lá estão do NÃO (que por si só são na sua maioria ridículos... e sei que o NÃO tem pelo menos um argumento perfeitamente válido mas que NÃO consta "logicamente" neste site - concorde-se ou não, é um argumento válido) ocupam bem mais espaço do que realmente as razões do SIM.

E quanto ao enquadrar na UE... nós devemos fazer aquilo que achamos melhor para nós (atenção que concordo com o sim) mas as realidades culturais, sociais, económicas, educativas são astronomicamente diferentes de país para país.
Se querem tratar o aborto como um assunto sério... o pior que podem fazer é tratá-lo como a globalização ("O aborto a nível internacional"). Como te digo... ainda bem que não pude votar... se não tinha um problema... votava SIM mas completamente revoltado por dentro. Principalmente se tivesse visto este site primeiro.

Não há propostas e soluções.

Quanto ao TUIST... irei tentar... irei tentar...

Cíntia disse...

Pois já escrevi sobre o assunto no meu blog e subscrevo as tuas palavras quando dizes que ninguém apresenta soluções. Também não votei, por ausência de inscrição no consulado português. Mas se estivesse em Portugal, tal como tu, votaria. Não por acreditar neste referndo, mas por acreditar na liberdade de escolha - isso sim, é democracia. Mas a despenalização do aborto é só o primeiro passo. Há que investir na educação sexual sem tabus e sem preconceitos; há que criar infraestruturas que concedam apoio a quem quiser fazer um aborto (psicólogos, consultas próprias, etc); e há que criar condições a quem quiser ter a criança mas não tem meios de a sustentar. Como tu dizes, Filipe: subsídios a sério. Consultar o que se faz pelo resto da Europa, como o sugere Cavaco Silva, acho que deve ser feito desde que seja para iluminar as mentes, mas deverá ser sempre com os olhos na realidade portuguesa. Porque, por alguma razão, há holandeses, há alemães, há italianos, ou há portugueses. Apesar de europeus, somos todos diferentes... Não considero o 'sim' uma vitória para Portugal, nem me regozijo com tal. A despenalização do aborto deveria ter sido assumida na assembleia. Aí sim, seria uma vitória. Pois quereria dizer que, pela primeira vez, os senhores deputados teriam feito o seu trabalho em vez de despacharem o assunto para a opinião pública. Pena é que haja tanta gente cega em Portugal. É de luz que esse país precisa! (E grande Filipe, perdoa-me a usurpação de espaço, mas este assunto simplesmente revolta-me). Bjs