segunda-feira, novembro 26, 2007

Capítulo I – A manhã de um dia diferente (5ª parte)

(...) Sentia-se cinzento, sujo. As lágrimas teimavam em querer aparecer. Dificilmente as conseguia suster. Fechou os olhos. Do nada, sentiu uma mão passar no cabelo. Um carinho. Exactamente naquele momento especial em que precisava de uma mão amiga. Abriu de pronto os olhos e olhou em redor. Não viu ninguém. Percebeu que não era mesmo ninguém… ninguém mais do que apenas o seu maior amigo, aquele que nunca o abandonara. Era simplesmente o seu próprio reconforto, a sua própria segurança e a certeza de que, antes de tudo o resto, ele tinha que gostar de si mesmo. Tinha que ser o seu primeiro amigo. Esse amigo sorriu-lhe, deu-lhe a mão e sussurrou-lhe ao ouvido…. “É hoje…” (...)



Capítulo I – A manhã de um dia diferente (5ª parte)

Olhou de frente o “seu amigo” e tentou manter a calma. Quando se sentiu sereno o suficiente para falar com o seu pensamento, cerrou os olhos e agradeceu por não se abandonar. Com os olhos cerrados, fez uma revisão às imagens mais significativas da sua vida… a família, os amigos, as traições, os sucessos, as desilusões, as boas surpresas. Não conseguiu catalogá-las nem ordená-las. Todas elas faziam sentido. Mesmo com as más, ele tinha aprendido. Aprendido a não seguir o mesmo caminho ou a crescer. Ou mais difícil ainda… a perdoar.
Abriu os olhos e não reconheceu onde estava. Ficou atordoado, não se lembrava o que estava a fazer naquele autocarro… coisa de dois segundos… mas daqueles que parecem uma eternidade.
Aos poucos recuperou a consciência e centrou-se na sua realidade. Teve um súbito momento de reflexão sobre o tempo de vida dispendido em causas pelas quais se “apaixona”. E, qual paralelismo romântico, identificou passadas “paixões” desnecessárias, saturantes, desprovidas de sentido… mas sem saber porquê, continua afecto a esse tipo de causas…

“E arranjar motivação para tudo?
E descobrir forças para continuar e tentar mudar determinadas coisas, quando há pessoas que não têm vontade, discernimento, capacidade de compreensão ou, simplesmente, são burras, teimosas e limitadas?!
E que tipo de satisfação ou recompensa tenho por continuar a fazê-lo?
“Palmadinhas na costas” daqueles que, na maioria das vezes, são apenas oportunistas à espera de serem levados na corrente positiva do esforço que desenvolvemos, para aproveitarem o momento e recolherem o que não lhes pertence? Simpatia dos nossos verdadeiros amigos e familiares e dos poucos que temos a sorte de conhecer e que de facto acreditem em nós e no nosso trabalho? Satisfação pessoal e sentido de dever cumprido, de acordo com os nossos princípios? Mas quando olho para trás e vejo o trabalho que tenho, as chatices e o dinheiro que não há… será que vale a pena?!”

E por aí se ficou com esta questão. De facto, ele sabe que acha que sim. No fundo… ele sabe que acha que “acha-que-sim”… porque grande parte das vezes, não lhe parece fazer sentido nenhum…
Enfim… pensava ele para os seus botões sem se aperceber que esse misterioso pensamento já lhe ocorria naturalmente como se uma melodia de música conhecida fosse: “é hoje”…

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